Perfumei o corpo
De tanto olhar para as flores
E de respirar a terra
Que as faz crescer.
Tapei todas as frestas da minha pele
Para a fragrância não desaparecer
E dentro de mim permanecer.
Não sei se é tempo de partir ou de chegar
Simplesmente acompanho o horizonte
Seguindo os dias
E hoje subo ao alto da montanha
Na tentativa de arrumar os pensamentos
Disfarçadamente o corpo torna-se leve
E a mente parece uma sombra pintada pelo sol
Crio a ilusão do silêncio ser a única porta
Por onde o corpo possa voltar.
Enquanto as horas vagueiam no meu corpo
Já o tempo rasgou os dias
E percorreu o sentido da minha pele
Sobrevivendo a esta fugaz passagem
Até entrar na memória do coração,
Soltando-se uma explosão de silêncio
E ouvindo-se o tempo despir
Uma palavra que ficou por dizer
Um sorriso apagado
A promessa prometida e não cumprida
O som de uma noite mal dormida
A vida esquecida de ser vivida,
E enquanto as horas passam
Olhamos para a vida já envelhecida…
Nesta viagem do tempo
Fugaz e a alta velocidade
O corpo embarca a todo o vapor
Sem colher dos dias o sabor
De paragem em paragem
Sem deixar a pele respirar
Tamanho é o ritmo do caminho
Que cada olhar segue mudo e sozinho
Levando na bagagem
A saudade de encurtar a distância
E deixar para trás os passos apressados
Os sorrisos fechados,
E de devolver aos dias a importância
De viver estação a estação
Com um bilhete de felicidade…
E com o ar leve e perfumado
Assim chega março
Confiante e despreocupado.
Traz o aroma da primavera
O cheiro a terra lavrada
Rebento de vida que irá ser plantado
Amor que brota no pousar dos dias
Março soma afetos e alegrias,
Soa a poemas, poetas e poesias
Manhãs despertas e tardes vadias
Olhar que se estende iluminado
Em cada rosto de mulher, ser amado
Assim se abrem as portas para a tua chegada
Que o vento suavize a tua caminhada…
Hoje vou deixar as palavras sossegar
O que tenho para te dizer
Está simplesmente a acontecer…
No dia que anoitece
No céu estrelado que brilha sossegado
Na manhã que amanhece
Na flor que floresce
No sorriso que simplesmente aparece
Ou no olhar acordado
Que por ti estremece
E deixa no corpo calado
O desejo de ser amado
Sem palavras…