Perfumei o corpo
De tanto olhar para as flores
E de respirar a terra
Que as faz crescer.
Tapei todas as frestas da minha pele
Para a fragrância não desaparecer
E dentro de mim permanecer.
Não sei se é tempo de partir ou de chegar
Simplesmente acompanho o horizonte
Seguindo os dias
E hoje subo ao alto da montanha
Na tentativa de arrumar os pensamentos
Disfarçadamente o corpo torna-se leve
E a mente parece uma sombra pintada pelo sol
Crio a ilusão do silêncio ser a única porta
Por onde o corpo possa voltar.
Sentimos o desfilar
De mês a mês a vida encantar
E nesta viagem, junho acaba de chegar
De janela aberta
Para desabrochar os sentidos
E receber o verão que não tarda a entrar.
Junho transporta o poeta e a poesia
Que dá nome ao dia de Portugal
Pelas ruas encontramos a alegria
Dos arraiais e festas populares
O saber manter a tradição
A sardinhada, o vinho e o pão.
Abraço junho de modo especial
Dá vida aos anos de vida da minha mãe
À tranquilidade de mais um aniversário passar
E ter como presente a família a festejar.
Pousei o amor devagar
Embrulhei-o juntamente com a saudade
Escrevi o endereço para até ti chegar
Dando ao vento a liberdade
De escolher o melhor lugar
Para contigo se encontrar.
O meu peito bate insatisfeito
Desassossega o coração
Ansioso este meu jeito
De querer receber notícias da tua missão.
Desliza na minha pele o amanhecer
E o pensamento parece já não querer colher
Senão o que trazes para me dizer…
Interrompo os pensamentos
Sem saber formatar os sentimentos
Descrevo-me em palavras
Umas vezes certas
Outras tantas desarticuladas
Sou como o sorriso que amanhece
Tímido,
E no ventre do sol espairece
Guardo no dia silêncios
De segredos e conversas caladas
E enfeito-me de gestos
Que se desprendem do coração
Sem serem ensaiados
São olhares acesos
Fragmentos
De mim…
Enquanto as horas vagueiam no meu corpo
Já o tempo rasgou os dias
E percorreu o sentido da minha pele
Sobrevivendo a esta fugaz passagem
Até entrar na memória do coração,
Soltando-se uma explosão de silêncio
E ouvindo-se o tempo despir
Uma palavra que ficou por dizer
Um sorriso apagado
A promessa prometida e não cumprida
O som de uma noite mal dormida
A vida esquecida de ser vivida,
E enquanto as horas passam
Olhamos para a vida já envelhecida…