Tão depressa avanço como recuo
Por vezes perco-me no trilho
Até recuperar o sinal de orientação
Aquele que me dita o sentido
E dá voz ao coração.
Tenho o corpo vestido de vida
E enfeitado de sonhos
Faço dos dias uma viagem
Para descobrir quem sou
E para onde vou.
Cada estação é local de paragem
Sacudo o cansaço e respiro o silêncio
Que o olhar absorve de cada paisagem.
Não existe longe
Quando a razão dita a distancia
No brilho de cada amanhecer
E na crescente vontade de viver.
O longe se torna perto
O caminho liberto
No esculpir de cada palavra
Tatuo a minha marca
Não só do meu caminhar
Como da força do amor
Que me faz continuar…
Arquivos mensais: Abril 2017
Somente sentir
Fiquei presa ao teu olhar
À doçura do teu sorriso
Naufraguei nos teus braços
Até em ti me afundar.
Enquanto aí permanecer
Todas as palavras serão mudas
Nada a dizer
Nada a questionar
Somente sentir.
Ser que me dá Ser
Ligados à vida para a vida
Tu que cresces no meu ventre
Filho da minha semente
Pele da minha pele
Amor que germina amor
Renasço com o teu respirar
Ser que me dá ser
Dissipas o grito da minha dor
Assim que te sinto nascer.
Aconchego-te no meu peito
Adormeço-te no meu leito
Guardo-te em mim
Na corrente que nos une
Serei sempre o teu cais
A tua âncora
Ouvirei o som do teu silêncio
Em respeito pelo respeito
De semelhantes não sermos iguais.
És o meu presente
Hoje e serás sempre
Dentro e fora de mim
Haverá sempre lugar
Para te deixar voar
Estendo as minhas mãos
Para te receber no meu ninho
Manto de amor e carinho
Quando entenderes poisar.
Importa viver
Mais um dia a começar
Atado ao anterior por acabar
Já conheço de cor as horas
Mesmo sem as contar.
O que resta de mim
Nestes dias vulgares
Aos gestos repetidos
Que caem num vazio doentio
Capaz de suspender o tempo
Onde só o silencio desperta
Esta triste realidade
Deixando cair a vontade
De ter algo para oferecer.
Não resta mais que enfeitar a sombra
De um corpo já cansado
Que apesar de não ser velho
Tomba de tão inocente ser
E de tantas vezes provar
O sabor amargo de sofrer.
Visível a fadiga que me lavra o rosto
Nas tatuadas cicatrizes de desgosto
Não aprecio simpatia tecida em hipocrisia
Não sei ser fachada colorida
Na terra que se tornou agreste e esbatida
Onde todos se olham sem se ver
E passam a acreditar no que fingem ser.
Tudo isto habita em mim
Porque, até então, não sabia ser assim
Hoje, vejo apenas o que quero ver
Silencio o que de mais parecer
Importa viver.